No mês de maio é celebrado no dia 18 o “Dia da Luta Antimanicomial”. Por conta de um post muito necessário do @cafecoletivopsi intitulado “O Movimento LGBTQ+ e o Manicômio” tive inspiração para poder escrever também a respeito de “Reflexões sobre a Luta Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica e seus impactos na Saúde LGBTQ+”. Não esqueçam de também conferir o post na página deles.

Na década de 70 houve alguns dos primeiros movimentos que começaram a dar ar para uma assistência psiquiátrica no Brasil por meio de profissionais recém-formados. O cenário em saúde mental era(é) de descaso e violência (AMARANTE; NUNES, 2018).

O cenário caótico brasileiro era de luta por um processo de redemocratização e contra a ditadura. O contexto social e cultural, além de econômicos e políticos, vivenciavam então momentos de tensão para uma tentativa de transformação. Com isso, é preciso entender que sem os movimentos sociais e culturais a Reforma Psiquiátrica provavelmente teria outra cara. Talvez nem tivesse existido naquele momento. Em suma, não há mudança sem participação social.

Dentre muitos objetivos, podemos salientar que o Movimento de Luta Antimanicomial buscava uma desinstitucionalização de sujeitos com sofrimento psíquico que eram encarcerados e violentados em Hospitais Psiquiátricos, Manicômios e Hospícios. O relato feito por Daniela Arbex em seu livro “Holocausto Brasileiro” conta e mostra um pouco das terríveis cenas e situações que as pessoas passavam.

Com os movimentos, a loucura passa então para o início de um processo de ressignificação, onde não deixa de ser estigmatizada, mas começa a ser entendida como cabível dentro da sociedade. Psicólogos, Psiquiatras e outros profissionais engajados em saúde mental, ainda são vistos como último recurso para se buscar diante de um mal-estar psíquico, e os que vão precisam ter o diagnóstico psicossocial de “louco”. Com esse processo a loucura começa a ser pensada para além de dispositivos clínicos e terapêuticos, e ganha espaço para ser pensada em dispositivos sociais, culturais e políticos (AMARANTE; NUNES, 2018).

Quando pensamos em toda história da Reforma Psiquiátrica, do Movimento de Luta Antimanicomial e das novas configurações da loucura, podemos refletir também sobre Saúde LGBTQ+. As sexualidades destoantes da norma cis-heterossexual eram tidas como não-identidades, e até hoje ainda vemos profissionais e cidadãos buscando oprimir a visibilidade LGBTQ+. Muito se ouve falar sobre “Cura Gay”, um tipo de “terapia” convertiva que busca colocar sujeitos de sexualidades e identidades de gênero diferentes, na norma.

Ao longo de toda a história sujeitos LGBTQ+ foram e tentam ser varridos da sociedade, colocados à margem, fora do que está sobre os olhos. Afinal, já ouvimos aquela expressão: “Tudo bem ser gay, mas o faça dentro de 4 paredes”. Não à toa, LGBTQ+ eram colocados em manicômios e hospícios para que pudessem ser “tratados” enquanto a homossexualidade era entendida pelo DSM enquanto doença. Alguns, infelizmente, ainda pensam que é. A patologização das identidades e o estigma ressoam em pleno século XXI.

Como consequência dessa história, dentre outras considerações também, temos reflexo da falta de Políticas Públicas e profissionais capacitados em especificidades para lidar com sexualidade humana e saúde LGBTQ+. A Psicologia com sua ética e disposição de olhar e posicionamento Político (isso não tem a ver com questões partidárias) dispõe de materiais e resoluções que são avanços e podem contribuir para um melhor entendimento de como assistir e escutar sujeitos LGBTQ+. Contudo, a Psicologia ainda precisa ir além. A Psicanálise precisa ir além. E todas as outras profissões precisam também.