O sujeito não nasce pronto, ele vai se constituindo. Há nesse processo inserção dele no campo da linguagem, tornando-o um ser discursivo. A mãe, o Outro, é essencial para a organização e constituição psíquica. Transmite inicialmente desejo ao bebê, o funda na cadeia desejante.

Contudo, há o que chamamos de função materna. Isso faz com que o cuidado e elementos constituintes do Outro não se restrinjam ao aparato biológico do sujeito. Assim, ser mãe, desempenhar a função materna, não diz respeito exclusivamente de uma constituição de mulher biológica cis. Mas sim, de uma posição discursiva. É uma função necessária e primordial que não cabe apenas ao que pensamos como mãe real.

Dessa maneira, outros responsáveis pelo cuidado e manejo da dinâmica de desenvolvimento do bebê podem desempenhar a função materna e a maternagem, inclusive homens e indivíduos trans. O que dificulta em sua maioria esse processo são os estigmas sociais e o preconceito, pois não haverá prejuízos às crianças.

Há um Imaginário Sociocultural que impõe o equívoco de que as figuras parentais estão coladas ao sexo biológico dos sujeitos, estabelecendo assim a errônea compreensão de que apenas mulheres biológicas cisgêneros podem desempenhar a função materna e o mesmo, no sentido oposto, para a função paterna.

Por isso, e muito mais, é preciso ir além de uma compreensão hegemônica de família, mães e pais. Não há apenas famílias heterocentradas, normatizadas de um lugar tradicional. “[...] funções não dependem do sexo, gênero, orientação ou identidade sexual de quem vai exercê-la.” (VIEIRA, 2011).